Ainda na barriga da mãe, o bebê pode desenvolver um tumor cístico adematóide que, muitas vezes, requer uma intervenção cirúrgica complexa e inovadora.
Confira o caso comentado pelo especialista Eduardo Isfer.
Os pais Rodrigo da Rosa Gonçalves e Monique Araújo Batista receberam a notícia que seu filho, ainda na gestação de 28 semanas, estava diagnosticado com malformação cística adenomatóide de pulmão.
Dr. Eduardo Isfer, médico especialista em cirurgia fetal e Membro da International Fetal Medicine and Surgery Society (IFMSS) explica que “a malformação císctica adenomatóide é uma espécie de tumor benigno de crescimento rápido que pode acometer o bebê em desenvolvimento ainda no útero.”
“O tratamento inicial é realizado com uso de corticóides e, caso não diminua de tamanho o tumor, há a necessidade de uma intervenção cirurgica. Ao aumentar de tamanho, a massa comprime os pulmões, além de deslocar o coração. Deslocando o coração, isso leva o bebê a uma insuficiência cardíaca e acumulo de água no pulmão. A chance de sobrevida do bebê é de 5%, se não para menos.” Reforça o Dr. Eduardo Isfer.
Com isso, Rafael, o bebê com um pouco mais de 1kg, precisou passar por uma cirurgia antes de oficialmente vir ao mundo.
Sobre o procedimento
Ainda na barriga da mãe, o feto foi operado para que os médicos pudessem remover a massa sólida que já ocupava 90% da sua caixa torácica e comprimia seus pulmões e coração.
“A cirurgia a céu aberto, como costumamos dizer, é uma microcesárea em que um cirurgião toráxico juntamente com o obstétra realizam a exérese, remoção do tumor.” Pontua Dr. Eduardo Isfer.
A operação ocorreu no dia 6 de julho de 2022 e envolveu 26 profissionais.
O cirurgião e obstetra Antonio Moron, responsável pelo serviço de Medicina Fetal do Hospital e Maternidade Santa Joana, onde o procedimento foi feito, explica que, na cirurgia, foi feita uma incisão na barriga de Monique para que o útero fosse retirado da cavidade abdominal e o feto pudesse ser operado.
“Com o útero exposto fora do abdome, mapeamos onde estava a placenta e o tórax da criança e fizemos uma abertura no útero de forma a não impactar a placenta. Tínhamos três ambientes cirúrgicos: o da mãe, o do feto e um terceiro com a estrutura toda montada caso houvesse alguma intercorrência e tivéssemos que fazer o parto de emergência”, diz o especialista.
Para finalizar, Dr. Eduardo Isfer reforça o lado positivo do procedimento cirúrgico que salvou a vida do bebê ainda no útero, mas também alerta para o fato de que a mãe em questão não pode mais gestar, pois ao sentir cólicas ou outros desconfortos com uma nova gestação há o risco de rompimento do útero, devido ao procedimento realizado anteriormente.
A cirurgia, apesar da complexidade, foi um sucesso e a mãe continuou sua gestação. O bebê nasceu sem sequelas.